Cegonha reborn: conheça a profissão que confecciona “sonhos”

O ofício demanda habilidades manuais, paciência e cuidado

Cegonha reborn: conheça a profissão que confecciona “sonhos”

Vera Emerenciano é “cegonha reborn”. (Foto: Gustavo Arland/Cortesia)

Olhos atentos, movimentos calculados, detalhes minuciosos. O trabalho das “cegonhas reborn”, pessoas responsáveis pela produção artesanal de bebês reborn, vai além da criatividade. Há 10 anos, Vera Emerenciano se dedica à confecção e venda de bonecas realistas e hiper-realistas no Recife e Região Metropolitana. O caminho entre paixão por bonecas até a profissionalização foi marcado por aperfeiçoamento, acertos e erros.

“Conheci a arte reborn em 2012 e me apaixonei completamente. Fiquei vidrada nesse assunto e pesquisando muito. Em 2024, comecei a procurar cursos, porque eu não queria trabalhar, eu só queria uma para mim. Mas, eu achava o preço tão alto que achava impossível comprar uma para mim. Então, preferi me especializar na arte e ter uma bebê reborn para mim. Vou para São Paulo e quando volto com as bonecas, todos se apaixonam e comecei a fazer para vender já em 2015. Hoje, é minha fonte de renda”, conta Vera.

Com a crescente popularização dos bebês realistas e hiper-realistas, Vera Emerenciano confirma que houve um aumento de produção e, consequentemente, de vendas. “Quanto mais a gente divulga, mais a procura pelos bebês aumenta. Eu já fui para vários encontros de ‘mães de bebê reborn’, em São Paulo, Rio [de Janeiro], temos grupos de artistas reborn. É algo que só cresce”, frisa.

Confeccionando sonhos

Para Vera Emerenciano, a produção das bonecas é muito mais do que um negócio, é como “confeccionar sonhos”. “Eu amo levar alegria, amo levar paixão”, diz à reportagem. Com a crescente procura nos últimos anos, ela ou a conta com uma pequena equipe para a produção dos bebês reborn. Contudo, o trabalho continua manual.

O tempo de confecção varia consoante a especificidade das bonecas, como explica a “cegonha”:

“Os bebês que são réplicas têm uma pintura hiper-realista e demoraria [para fazer] entre 10 e 15 dias. A diferença entre uma boneca realista para a hiper-realista é a quantidade de camadas de pintura. Então cada detalhe que a gente faz com tinta e solvente, leva ao forno. E é um processo que se repete algumas vezes. Já uma boneca realista, levo, em média, sete dias para terminar, descreve.

Para realizar o trabalho totalmente manual, Emerenciano e a equipe utilizam um forno específico. O kit “cru”, que é o molde de vinil siliconado, a pelo processo de aquecimento a cada camada de pintura, realizada com tintas próprias para a arte reborn, vários pincéis, esponjas, solvente e “muitas horas de trabalho”, salienta. O custo inicial para produção das bonecas é em torno de R$ 10 mil.

Os bebês reborn vendidos por Vera custam a partir de R$ 699. Atualmente, os clientes são formados, majoritariamente, por crianças. Além das vendas online, as bonecas são comercializadas em lojas físicas. “Eu coloco em uma loja de roupas infantis e juvenis. A gente acabou juntando porque a mãe e a criança já estão lá e se apaixonam tanto pela roupa, quanto pelo bebê [reborn]”, frisa.

Todas as bonecas reborn, segundo Vera, são acompanhadas de um enxoval com os seguintes itens: certidão de nascimento, teste do pezinho, cartão de vacinação, carteira de identidade, pente, chupeta, fralda, roupa extra de verão, mamadeira, “pano de boca”, entre outros.

Eu sempre vendi com esse kit. Tem mãe que diz assim: ‘Vera, eu vou querer só a bebê. Não quero o kit’. Respondo que não vendo. A criança precisa interagir. Eu não estou vendendo uma boneca, estou vendendo um sonho. Um bebê! Ninguém tem um bebê sem um enxoval. Para mim, não seria interessante vender sem esse kit. Eu não cobro um valor a mais pelo kit, porque ele vai de brinde, reforça.

Sonhos não têm idade

“Eu digo que não existe faixa etária para ter bebê reborn. Eu digo que o bebê reborn é para pessoas com meses até mais de 90 anos. São pessoas que estão realizando os sonhos, independente da idade. Sonho é uma coisa que a gente nunca deve desistir de realizá-lo. Enquanto estamos vivos, temos sonhos e devemos tentar o máximo realizar porque a vida é muito curta”, comenta.

Recentemente, “mães de bebê reborn” viraram alvo de comentários e críticas. À reportagem, Vera Emerenciano classifica essa repercussão com “bullying”. “Infelizmente, uma coisa tão linda como a reborn está recebendo essas críticas. Eu vejo tantas pessoas, homens, mulheres colecionado selos, relógios, carrinhos. Por que não colecionar bebê reborn? Por que não colecionar bonecas? Por que só essa situação com a arte reborn? Eu não vejo ninguém reclamar de homens mais velhos que têm coleção de carrinhos, de quem tem coleção de livros”, salienta.

Confira a entrevista completa em vídeo com Vera Emerenciano, a cegonha reborn: