Todo mundo quer ser Senhor de Engenho 3d5d3u
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Hoje é um dos dias do ano que são, para mim, muito difíceis de atravessar. No Brasil, tenho abilidade branca, o que significa: não sou seguida na farmácia por suspeita de furto, não sou parada em blitz toda hora e a bota do policial não está no meu pescoço. Fora do Brasil é outra história, […]
maio 13, 2025 - 8:43 pm
Hoje é um dos dias do ano que são, para mim, muito difíceis de atravessar.
No Brasil, tenho abilidade branca, o que significa: não sou seguida na farmácia por suspeita de furto, não sou parada em blitz toda hora e a bota do policial não está no meu pescoço. Fora do Brasil é outra história, mas podemos falar disso outra hora.
Hoje, dia 13 de maio, em que “comemoramos” a abolição da escravatura no Brasil, precisamos nos perguntar o que, de fato, estamos comemorando e lembrar de não ar vergonha em celebrar a princesa branca como salvadora (mas essa, também, é outra história).
Hoje, 13 de Maio de 2025, o meu convite é mais simples e direto: queremos mesmo o fim da escravização de pessoas no Brasil ou agimos para, na verdade, ocuparmos os lugares simbólicos de Senhor de Engenho, assim, com letras maiúsculas?
Nas relações de trabalho, na vivência cotidiana com aqueles que “nos servem”, você já parou pra pensar que você também serve a alguém? Talvez de formas mais “sofisticadas” por serem mais intelectuais – ainda assim, serviçais.
E, veja, isso não deveria ser uma vergonha. Tá cheio de livro por aí te ensinando a nobreza do servir, com a ironia de se inspirar em cosmovisões, filosofias e religiões orientais, sempre tão enaltecidas e respeitadas nas bandas de cá do Ocidente, enquanto aquilo que é fundador do nosso chão fica à margem como menos importante, menos elaborado, menos inteligente e, portanto, menos digno de atenção, respeito e (pra piorar) direitos.
Quando você vai a uma festa de casamento, a uma formatura ou, melhor ainda, a uma festa da firma, me conta: você faz o exercício do pescoço? Caso você não saiba do que se trata, permita-me vestir a minha roupa preferida (a de professora) para explicar… Principalmente se você estiver em um lugar chique (mesmo que cafona), mova seu pescoço de um lado pro outro e se pergunte aonde estão as pessoas negras e, quanto mais preta (retinta) melhor.
Estão em posições iguais à sua, usufruindo da festa? Ou estão nos cargos de prestação de serviço de manobrista, garçons, profissionais da limpeza, mesa de som? Estão se divertindo sem compromisso, desfrutando de um bom momento ou estão a trabalhar sem ninguém a lhes perguntar o nome ou agradecer?
Eu sei que você não faz por mal.
Eu também não.
Se você tem a pele branca ou se a por branco quando alisa o cabelo (como eu), certamente você não tem culpa nenhuma por nada disso.
Mas.
Você se beneficia disso e, sem perceber, reproduz o modelo.
E, se percebe, dê o próximo o e interrompa aquilo que segue te privilegiando às custas alheias.
Como?
Vem me conhecer mais de perto no @anatomazellioficial, ali pertinho e de graça, no Youtube .
Mas é só pra quem tem coragem 😉
Ana Tomazelli é jornalista, psicanalista, Diretora de RH e Doutoranda em Ciência da Religião pela PUC-SP. Fundadora do Ipefem (Instituto de Pesquisa & Estudos do Feminino) e co-Fundadora do Ipecre (Instituto de Pesquisa & Estudos em Ciência da Religião), atua como mentora de carreiras e negócios para quem quer mover o mundo adiante de verdade e sem clichê. Toda quarta-feira uma provocação fresquinha aqui no LeiaJá (estreando excepcionalmente numa terça para aproveitar a data)! 🙂