Livro narra a saga dos judeus de Pernambuco que ajudaram na formação de Nova York
Obra de Daniela Levy chega às livrarias em segunda edição
maio 23, 2025 - 6:54 pm

Livro de Daniela Levy chega às livrarias em segunda edição. Foto: Divulgação
Pouco conhecida, a história dos 23 judeus expulsos de Pernambuco, em 1654, que ajudaram no desenvolvimento de Manhattan está sendo publicada em livro pela Cepe Editora. O título Do Recife para Manhattan: os judeus na formação de Nova York, de Daniela Levy, chega às livrarias em segunda edição.
Revisada e com um maior número de imagens, a publicação revela como os israelitas contribuíram para o crescimento da então vila holandesa, bem como as origens dessas pessoas e as dificuldades enfrentadas por elas na travessia do Brasil para os Estados Unidos. A viagem foi uma aventura, durou seis meses, registrou tempestade, saque pirata e prisões. O lançamento será no dia 28 de maio, 10h, durante o 3º Congresso Internacional de Judaísmo e Interculturalidade: História e Transculturalidade, no Recife Expo Center, bairro de São José.
O livro é decorrente de quatro anos de pesquisas da autora em arquivos dos Estados Unidos, de Israel e do Brasil. Ao investigar a trajetória dos judeus de Pernambuco nos acervos de instituições como a American Jewish Historical Society, em Nova York, a Universidade Hebraica de Jerusalém, em Jerusalém, e o Arquivo Público Nacional, no Rio de Janeiro, Daniela constatou que os semitas levaram em suas bagagens para Nova Amsterdã “uma enorme criatividade, tanto no campo da medicina como da literatura, linguística, ciências humanas e naturais”. Entre os exemplos de competência desses refugiados, a escritora aponta Asser Levy, que manteve boas relações com a comunidade protestante de Manhattan graças ao seu espírito de liderança e diplomacia.
Tendo como pano de fundo a saga dos 23 viajantes, o novo lançamento da Cepe Editora inventaria as perambulações dos sefarditas, como são denominados os descendentes das comunidades judaicas da Península Ibérica (Portugal e Espanha), em busca da terra para viverem. Essas andanças foram marcadas pelas perseguições religiosas e exílios, mas também pelo sucesso econômico em empreendimentos comerciais e contribuições para o desenvolvimento de algumas regiões do planeta.
“O Brasil foi o lugar onde puderam, mais que em qualquer outra região, desenvolver amplamente suas habilidades. Apesar da legislação portuguesa em relação aos homens de origem hebreia ter sido francamente discriminatória, conseguiram contornar a situação e manejar os negócios, adquirindo posições de prestígio e direção”, diz a historiadora Anita Novinsky (1922-2021) na introdução do livro.
O livro narra a saga dos judeus em 224 páginas, divididas em 15 capítulos e enriquecidas com mapas, fotografias e reproduções de documentos e obras de arte. A narrativa parte da fuga dos judeus de Portugal para a Holanda motivada pela Inquisição; envereda pela mudança deles ao Brasil junto às forças holandesas, na primeira metade do século XVII, e por sua organização comunitária no Recife, resultando na criação da primeira sinagoga das Américas; e ainda joga luz sobre o Santo Ofício, que condenou muitos à prisão e à morte, como ainda à conversão ao catolicismo e a terem seus bens confiscados.
Em um dos capítulos, o lançamento detalha como se deu a diáspora dos judeus de Pernambuco em 1654, ao término do domínio holandês em solo nordestino. Relatos históricos afirmam que 16 navios foram colocados à disposição pelo general português Francisco Barreto de Menezes para os cerca de 600 judeus que partiram para Amsterdã e para as colônias holandesas no Caribe. O grupo, instalado no navio Valk, foi atingido por uma tempestade no Mar do Caribe e posteriormente saqueado por piratas, presos por espanhóis e obrigados a fretar uma outra embarcação para chegar à colônia de Nova Amsterdã.
Ao todo, seis famílias judias provenientes de Pernambuco desembarcaram na ilha de Manhattan. Eram seis homens casados e dois solteiros, duas mulheres viúvas e 13 crianças. “Acho que essa história ainda é pouco conhecida, principalmente nos Estados Unidos, onde poucas pessoas reconhecem o papel desempenhado pelos pioneiros judeus de Recife”, avalia a autora. Daniela Levy revela que despertou interesse para o tema do livro ao morar em Nova York e ao conversar com a historiadora Anita Novinsky, ex-professora da Universidade de São Paulo (USP) e especialista na história dos judeus sefarditas e cristãos novos.
*Da assessoria